Olá car@s alun@s,
Eu sou Maya Suemi Lemos, professora de nossa disciplina, Tópicos Especiais em Formação Humana com Tecnologias II - Introdução ao pensamento pós e decolonial.
Nela, faremos uma iniciação às distintas correntes críticas que, desde os anos 1980, vêm colocando em questão os pressupostos e as formas de produzir conhecimento da tradição ocidental. Essas correntes chamam a atenção para as bases colonialistas e colonizantes que fundamentam a epistemologia moderna. Buscam, assim, propor formas de pensar e produzir conhecimento que não somente desmascarem as assimetrias envolvidas na epistemologia da modernidade ocidental, mas também que se voltem para epistemologias e formas de vida externas ao cânone ocidental.
Trata-se de uma virada epistemológica talvez tão significativa quanto aquela que instituiu a modernidade, a partir (grosso modo) do século XVII, e que se consolidou a partir do Iluminismo. Assim, essa virada tem e terá certamente um forte impacto sobre a trajetória acadêmica de tod@s vocês, apontando para formas de pensar e conhecer que ainda não sabemos bem quais serão.
Esta é a razão pela qual propomos esta disciplina, entendendo que conhecer os fundamentos dessa virada crítica é uma necessidade para as gerações atuais.
Mas antes de começarmos, gostaria de saber um pouco sobre você: Qual é o seu curso? Por que escolheu esta disciplina? Quais os seus interesses maiores neste tópico? Gostaria que abordássemos algo em especial em nossa disciplina? Responda no fórum abaixo.
Esta disciplina será realizada integralmente a distância, prevendo atividades unicamente assíncronas. Elas serão realizadas por meio deste Ambiente Virtual de Aprendizagem: você lerá os textos disponíveis e realizará as tarefas solicitadas, que incluem discussões por meio de fórum ou outras ferramentas, assim como produções textuais (resenhas, resumos, comentários). Esperamos que, ao fim da disciplina, você domine conhecimentos básicos sobre a crítica pós-colonial, de maneira que tenha condições de olhar para seu campo de estudo e de trabalho considerando os elementos dessa crítica.
A cada semana será postada uma proposta de leitura, sobre a qual trabalharemos, seja discutindo, seja produzindo um breve texto a partir dela (poderá ser uma ficha de leitura, um breve comentário, uma resenha, em função da natureza do texto escolhido). Você terá um prazo para realizar a tarefa (uma semana, geralmente). Assim, o conhecimento vai sendo construído coletivamente, e num mesmo ritmo.
A avaliação será baseada majoritariamente na realização das tarefas (70%), e complementada pela avaliação final (30%), na qual você escreverá um pequeno texto de síntese a partir das leituras e das discussões realizadas ao longo da disciplina.
Tem dúvidas? Poste aqui abaixo no fórum de informações práticas.
Um abraço!
Maya
Iniciaremos esta semana nossas atividades com a introdução do livro de Edward Said, Orientalismo.
Said é um dos nomes mais proeminentes da primeira fase dos estudos pós-coloniais e é impossível abordar o assunto sem passar por seu nome e seu estudo.
A tarefa desta semana será a seguinte:
Boa leitura e bom trabalho!
Caríssim@s,
Esperei mais tempo do que o previsto para abrir este novo tópico em função de dificuldades de acesso ao AVA por parte de alguns alunos. Assim seguimos todos no mesmo ritmo.
O fichamento de pontos importantes do texto de Said feito por vocês ficou excelente, indicando uma leitura qualificada e uma ótima capacidade de síntese.
Foram destacadas com justeza as relações de poder e dominação que presidiram (e presidem) à produção (e manutenção) de um campo de alteridade que, sob a denominação de Oriente, designa de forma fortemente generalizante e operativa o “outro” do Ocidente. A caracterização desse “outro” (contra o qual se recorta o Ocidente) é ideológica e, veiculada de várias maneiras, afirma permanentemente uma superioridade política, intelectual, cultural e moral atribuída ao Ocidente.
Antes de avançarmos para outra leitura, gostaria que atentássemos para alguns pontos que me parecem fundamentais para refletirmos numa perspectiva pós-colonial.
Procure saber mais sobre a noção de universalismo, e, por outro lado, busque refletir sobre as maneiras pelas quais a construção de alteridades (como no caso do "oriental") se mantém, se perpetuam.
Vamos agora avançar em nossas leituras. Vocês lerão agora um texto do sociólogo jamaicano-britânico Stuart Hall, um dos importantes responsáveis pelo surgimento dos chamados Estudos Culturais. Neste texto, intitulado O Ocidente e o resto: discurso e poder, ele expande a noção de alteridade Ocidente-Oriente proposta por Edward Said para a alteridade Ocidente-Resto, e busca explicar por perspectivas diversas e convergentes, os processos de configuração dessa alteridade, a partir do encontro entre o Velho e o Novo Mundo.
A tarefa do tópico será apontar no fórum abaixo algum elemento importante na argumentação de Stuart Hall que não tenha sido explorado por Edward Said no trecho que lemos de seu livro Orientalismo. Ou seja, trata-se de refletir em que sentido(s) a contribuição de Hall leva adiante a abordagem pós-colonial de Said.
O texto de Stuart Hall se refere inúmeras vezes a outros capítulos do livro ao qual ele pertence originalmente. Assim, para quem quiser eventualmente consultá-los, disponibilizo o livro completo no original (a coletânea "Formations of Modernity", organizada por ele e por Bram Gieben).
Também de forma complementar, para quem quiser, forneço o livro de Stuart Hall Da diáspora - identidades e mediações culturais. Esta edição em português fornece uma ótima introdução biográfica sobre o autor ("Apresentação - para ler Stuart Hall"), que o situa histórica e socialmente.
Espero que gostem da leitura!
Caríssim@s,
Quero parabenizar as tarefas realizadas por vocês sobre o texto do Hall no tópico anterior.
Seguimos nosso percurso, abordando agora o que se convencionou designar "Subaltern Studies". Nomes como Ranajit Guha (History at the Limit of World-History), Gayatri Chakravorty Spivak (Pode o subalterno falar?), Dipesh Chakrabarty (Provincializando a Europa), Partha Chatterjee (The Nation and its Fragments: Colonial and Postcolonial Histories) se destacaram no grupo de estudiosos (predominantemente do sul asiático) denominado Subaltern Studies Group (Grupo de Estudos Subalternos) que, já nos anos 1970, buscava, partindo de base marxista e gramsciana, refletir sobre as sociedades pós-coloniais. Tratava-se de recuperar a narrativa histórica a partir de vozes anteriormente não ouvidas, rompendo com a história das elites e a história eurocentrada. Fontes alternativas deveriam localizar a voz do subalterno, e registros relacionados à elite deveriam ser lidos “a contrapelo” (expressão oriunda da obra de Walter Benjamin), de maneira a dar a ver outros pontos de vista e narrar a história a partir das vozes subalternizadas, seja em termos de classe, casta, gênero, língua ou cultura.
Leremos o capítulo inicial de Provincializando a Europa, de Dipesh Chakrabarty. Chakrabarty problematiza o fazer da história (a historiografia) ocidental e sua pertinência em outros modelos de cultura. Coloca em questão, igualmente, as noções de falta, incompletude e fracasso que comumente qualificam o processo de transição ao capitalismo moderno pela sociedade indiana (a narrativa da transição incompleta, na Índia, de um modo de vida medieval para o moderno).
A tarefa desta etapa será refletir sobre o caso brasileiro a partir do que discute Chakrabarty neste capítulo de leitura: você identifica algum aspecto de equivalência ou analogia entre o que diz o autor acerca da Índia e o que experimentamos aqui? Poste no fórum sua reflexão até o dia 11 de outubro.
Disnibilizo uma leitura complementar, opcional: um artigo sobre a proposta epistemológica de Chakrabarty, que esclarece um pouco mais acerca de seu projeto.
Boa leitura e bom trabalho!